sábado, 2 de outubro de 2010

aspirinas

Ele apagou o cigarro na pia com raiva e jogou no vaso. Era mais fácil só tê-lo jogado direto no vaso e puxado a descarga. No banheiro, tirou a roupa e entrou no chuveiro rapidamente. Ligou o chuveiro e deixou a agua só rolar pelo corpo, como se isso fosse levar todos os pecados pelo ralo. A frustação batia. O gosto amargo da noite ainda era latente em sua boca. As bocas que beijou sem compromisso, tudo vinha a sua cabeça em flashes. Cada momento. Queria esquecer. Pegou o sabonete e passou pelo corpo marcado, de outras noites, não da anterior. Eram marcas antigas, de outros dias, não tão fáceis de apagar. Não de apagar só com água. Molhou o rosto e jogou o cabelo para trás, molhado. Aquele banheiro. As paredes antes falavam, antes sussuravam em seu ouvido, mas agora ele só ouvia gritos. Gritos de lamúria. Um choro pesado. Desceram as lágrima pelo rosto, finalmente. Ele pensava porque daquele choro repentino. Seria pena dele mesmo? Ao que tudo indicava era isso mesmo. Pena de não ter conseguido manter uma coisa simples e boba. "Ah, as paredes me confesso... Ninguém quer ouvir os meus desamores monótonos" As luzes ofuscantes ainda sintilavam. Ele ouvia a música ainda em sua cabeça. Pensava a todo momento: "Porque eu fui fazer isso?" As pessoas passavam com seus copos erguidos e conversando alto, e ele lá, parado esperando o telefone tocar, sabendo que ele não ia tocar. Sentado no chão do banho, com as mãos cobrindo a face, já em altos prantos, ouvia o barulho dos pássaros nas árvores despertando se misturando aos barulhos do seu banheiro. Por lá ficou horas, esperando que a água levasse embora aquele sentimento de culpa, que o sabão limpasse os rastro da noite;a very, very foolish mistake. "Veja isso crescer, como um motim". Por uma noite pareceu James Dean, só pareceu. Quando viu que de nada ia adiantar, parou de chorar e puxou uma toalha.

Foi para a velha cama cansada e deitou. Sentia o cheiro nas cobertas. Não sabia se o travesseiro estava molhado por causa do seu cabelo ou pelas lágrimas. Por fim se cansou e caiu no sono.

Acordou, levantou, tomou uma aspirina, colocou a mesma roupa de sempre e foi trabalhar mais um dia como se fosse qualquer outro.

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